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quarta-feira, 24 de junho de 2015

A origem

O Banco Central manifestou preocupação com a chamada “inércia inflacionária”, isto é, a influência da inflação passada sobre as taxas corrente e futura. Faz sentido: há evidências que a inflação se tornou mais persistente, dificultando sua convergência à meta de 4,5% no ano que vem, dado que este ano ela deve ficar na casa de 9%, “puxando” para cima a taxa de 2016.

Sempre houve algum componente de inércia na inflação, mas a questão relevante é o motivo de sua elevação no período mais recente. Tipicamente se imagina que este comportamento resulte de alguma característica primal da sociedade, talvez de origem sociológica. Pode até ser verdade, mas, mesmo se fosse, restaria ainda explicar o que teria feito esta característica se exacerbar nos últimos anos.

Ocorre que a inércia pode resultar também da percepção das pessoas acerca do prazo de convergência da inflação à meta.

Caso o BC mantenha a inflação flutuando ao redor da meta, de forma que, em média, as duas sejam bastante próximas, é claro que a melhor aposta para a inflação em um dado ano passa a ser a própria meta. É isto que chamamos de “ancoragem de expectativas”.

Imagine, contudo, que, em face de um desvio suficientemente grande, o BC anuncie para a sociedade que estendeu o período de convergência para dois anos. Neste caso deixa de ser verdade que a melhor expectativa de inflação para o ano corrente seja a meta. Se metade do caminho for percorrida no primeiro ano, a melhor aposta para a inflação deste ano seria a média entre a inflação do ano anterior (9,0%) e a meta (4,5%), ou seja, 6,75%.

Caso o BC se decida por uma convergência ainda mais longa, digamos 3 anos, dividindo o caminho uniformemente, a melhor expectativa para o primeiro ano seria uma média ponderada entre a inflação passada (com peso 2/3) e a meta (com peso 1/3), isto é, 7,5%. Para uma convergência em 4 anos a melhor aposta para inflação do primeiro ano ficaria próxima a 8%.

Assim, quanto mais longo for o período de convergência, tanto maior deve ser o peso atribuído à inflação passada na formação das expectativas acerca da inflação do ano corrente.

Não é difícil concluir, portanto, que a ação do BC a partir de 2011, quando estendeu extraordinariamente o período de convergência, deve ter feito com que os formadores de preços e salários passassem a atribuir peso crescente à inflação passada. Posto de outra forma, o aumento da persistência inflacionária resulta muito provavelmente da gestão equivocada da política monetária.

É compreensível, portanto, a mudança recente da linguagem do BC, que passou a dar ênfase à convergência já no ano que vem. Trata-se de tentativa de convencer os agentes a darem peso maior à meta e menor a inflação de 2015 na formação de suas expectativas para 2016.

O problema, porém, é o histórico nada honroso do comando do BC desde 2011. Para quebrar este círculo vicioso de expectativas será necessário passar por um período recessivo.


A alternativa de estender novamente a convergência custaria menos em termos de atividade agora, mas agravaria a inércia, repondo o problema à frente em escala maior. Foi, aliás, esta alternativa no passado que nos fez chegar à atual situação crítica; para sair dela é forçoso, mais que nunca, quebrar este padrão.

Não precisa recuar tanto

(Publicado 17/Jun/2016)

8 comentários:

Em 2014 já se falava muito de como o governo estava segurando os preços (especialmente de energia elétrica e combustíveis) por conta das eleições e que posteriormente iria fazer o tal “tarifaço” (rememorando o governo Sarney). Ou seja, já havia a expectativa de alta da inflação em 2015.

Como tudo e todos utilizam energia, estes custos adicionais são repassados a toda a cadeia produtiva/econômica, fato que está acontecendo. Ou seja, a paulada foi feia e as marolas (pequenos aumentos, mas contínuos) viraram uma onda (9% de inflação).

Para o povo de baixa renda, este aumento nos custos de energia, combustível entre outros fez com que tivessem menos dinheiro para o consumo de outros bens. O aumento no desemprego e inflação já fez com que os cidadãos tirassem o pé do acelerador, vários estão sem poder pagar suas contas (já se manifestando no aumento da inadimplência), estamos todos temerários do futuro e assim começamos nossa espiral negativa.

Assim sendo, parece que não há mais necessidade de aumentar os juros, pois o processo de desaceleração já está em curso. O aumento me parece que apenas agravará a situação dos devedores, inclusive do Governo Fuderal. Será que mexer nas taxas de juros não já deu o que tinha que dar, e o negócio são reduzir os gastos governamentais, injetar confiança no mercado e remover os resquícios da administração econômica passada (Manteiga já foi, falta substituir o Trombini).

Com nosso congresso e executivo, diminuição dos gastos será quase impossível. Com as promessas quebradas da nossa Govern-anta e os nossos escândalos (Lava Jato, CARF, HSBC, BNDES...) acho que vai demorar em a comunidade internacional voltar a ter confiança no Brasil. O negócio é torcer e rezar, pois as marolas viraram uma onda, e a onda está vindo de forma mergulhante!

O ideal seria termos um currency board para forcar o governo a ter uma melhor disciplina fiscal.Veja o caso de Cingapura,nesse artigo do Mises:http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2059

Cingapura abandonou o currency board há mais de 40 anos, se não me engano em 1973 (não estou com saco de procurar). Dos 50 anos de história do país, durou 8...

Alex, um artigo sobre juros x dominância fiscal nesse seu estilo didático mas profundo cairia bem .Tem muito picareta falando bobagem( ver Nakano,editorial do Valor...).

Segundo o artigo do Mises ,eles mantêm um certo controle do câmbio em relação a uma cesta de moedas.

Alex, você é vidente? Essa foto dias antes da Dilma Sapiens falar tantas asneiras... Impressive!

Prezado Sr. nem é preciso estudar muito para se saber como se comporta o ser humano no sentido de se preservar. Imaginar uma racionalidade, típica da crença de economistas da velha geração, é não perceber com que universo se está estudando. Depois de termos vivido números contundentes de inflação, depois de diversos esforços para combatê-la, os governos petistas parecem ter se esquecido que a inflação, além das decisões governamentais, também tem um componente forte na crença popular. Se ela tem confiança nas autoridades monetárias, tudo bem, mas se começam a desconfiar, que é o caso presente, há uma estouro de boiada, um salve-se quem puder. Quem frequenta os supermercados sabe do que estou falando. Há preços que subiram mais de 50% em pouco menos de seis meses por conta de prevenção. Muito provavelmente, com a queda de consumo, haverá reajustes para baixo, mas jamais nos patamares anteriores à presença do dragão. Ação humana é nome que se dá a isso. Relação de confiança entre o cidadão e o Estado representado pelo governo. A quebra de confiança gera tudo isso que o Brasil está enfrentando e não há milagre que se possa fazer se não se recuperar esse sentimento popular, confiança. E se tem alguma coisa que predomina nesse Brasil de Macunaíma é a esperteza, parente distante, bem distante, da inteligência.

"Segundo o artigo do Mises ,eles mantêm um certo controle do câmbio em relação a uma cesta de moedas."

Continua não sendo um currency board...