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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A Guido o que é de Guido

A queda do PIB revelada pelo IBGE colocou o país numa situação desconfortável: apenas a Ucrânia, imersa numa guerra civil, e a Rússia, sob sanções precisamente por se envolver no conflito ucraniano, apresentaram desempenho pior que o nosso.

Se já era difícil atribuir ao resto do mundo a fraqueza da economia local, este dado deveria ser mais do que eloquente para sepultar tal ideia. Obviamente isto não ocorrerá, pois a capacidade de certos analistas se aferrarem a conceitos mais do que desmentidos pelos fatos se aproxima do infinito.

O resultado reforça que o Brasil está em recessão. Não porque o PIB caiu por dois trimestres seguidos, mas com base no trabalho desenvolvido pelo Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos, que, aplicando metodologia similar à utilizada em outros países, concluiu que a recessão se estende desde o segundo trimestre de 2014.

Diga-se também que o investimento no Brasil caiu por nada menos do que oito trimestres consecutivos, fenômeno que não apenas aprofunda a queda da atividade, mas sugere também que a capacidade de crescimento à frente será negativamente afetada.

Estes fatos, porém, trazem um novo problema. Muito embora seja lugar-comum atribuir a queda da atividade econômica à austeridade fiscal e monetária, tanto a recessão como a queda persistente do investimento precedem, em muito, a mudança de política. Falta, portanto, identificar as causas iniciais destes processos.

Como temos explorado há tempos neste espaço, o arranjo de política econômica que vigorou de 2011 a 2014, a Nova Matriz Macroeconômica (NMM), era insustentável.

A inflação vinha desde o primeiro trimestre de 2012 em trajetória de aceleração, apesar de controles de preços, cortes pontuais de impostos e tentativas de segurar o valor do dólar no mercado de câmbio.

Em particular, a prática de represamento dos preços administrados, especialmente combustíveis e energia, teve repercussões negativas em várias dimensões, desde o atiçamento das expectativas inflacionárias (pois se antecipava, acertadamente, que seria necessária uma inflação corretiva), até a desarticulação dos setores energético e sucroalcooleiro, passando pela emasculação da capacidade de investimento da Petrobras.

As contas públicas mostravam deterioração constante, mal disfarçada pelas “pedaladas” das mais diversas variedades. Consequentemente, a dívida do governo passou a crescer de forma acelerada, revertendo anos de trabalho paciente de melhora nesta frente.

As contas externas, por fim, apresentavam déficits crescentes, também sinalizando que em algum momento medidas deveriam ser tomadas para corrigir o desequilíbrio.

Em suma, era óbvio que, cedo ou tarde, ou a NMM seria (como foi) abandonada, ou rumaríamos para uma crise aguda.

Não deveria ser surpreendente sob tais circunstâncias, portanto, que tanto o investimento quanto o produto caíssem mesmo antes da mudança de política, que, a propósito, só se manifestou no lado monetário; do lado fiscal o desempenho consegue ser ainda pior do que o observado no ano passado. E ganha um doce quem identificar austeridade no orçamento de 2016...


Os sinos da recessão tocam, portanto, pela NMM, também responsável pelos obstáculos à adoção de políticas anticíclicas, tópico a ser explorado na próxima coluna. 



(Publicado 2/Set/2015)

7 comentários:

Alex,

Gostei da sua participação no JC ontem, os resumos ficaram muito bacanas.
Vai participar toda semana??

Alex, amarelou para citar nominalmente a Laura? Nao to te reconhecendo...

De todas as premissas equivocadas da Unicamp, uma das mais desastrosas é essa tese velada, sustentada por eles, na qual o país não precisa do "capital financeiro global". Confrontam o capital financeiro com a mesma esquizofrenia pela qual Don Quixote via os Moinhos de Vento como seus inimigos. Pobre Levy, virou o Sancho Pança da Dilma Roussef. O falso-ás do governo ainda tentou convencê-la de que atender aos pedidos do Nelson Barbosa, em divulgar o orçamento de 2016 com déficit, poderia antecipar o rebaixamento da nota do país. Dito e feito, a S&P desembainhou sua espada sobre uma de nossas mãos e ainda mantém a espada em punho, ameaçando cortar a outra.

A NMM não foi de todo abandonada, estão com um pé lá naquele bote e outro no cais.

A mente distorcida destes esquerdistas pensa que tudo se resolve na base do marketing, na base do gogó, do João Santana. Até o Delfin já pulou fora, falta mais o quê?

Vai piorar muito ainda antes de talvez tomarem o rumo pra fazer parar de piorar.

E o Levy?

Já estão falando por aí que ele está fazendo papel do cara que trancou a terceira classe enquanto os lordes fugiam com calma no ultimo bote.

No episódio "A Banha do Baile", Homer Simpson descobriu, certa vez, que uma latinha com óleo de fritura podia ser vendida a U$0,80 para a reciclagem orgânica. Entusiasmado com a oportunidade, passou uma hora calcinando U$24,00 de bacon, recolheu a gordura da caçarola, deu a torresmada restante pro cachorro (que depois passou mal e teve que ir ao veterinário ao custo de U$300) e foi, todo feliz, faturar as moedinhas. Ao ser perguntado pelo filho Bart sobre o déficit da transação, respondeu que afanara a grana do bacon da carteira da esposa, Marge. "Mas não foi você mesmo quem deu o dinheiro à mamãe?", retorquiu o garoto. "Ora, o importante é que assim a economia se movimenta", arremata o gênio.

Homer Simpson é formado em Economia pela UNICAMP e é o favorito para substituir o ministro Joaquim Levy.

A UNICAMP, por sua vez, conseguiu alçar a Economia ao panteão das Ciências Exatas; aplicada às finanças públicas, consegue sempre produzir os mesmos resultados: breve gastança eufórica e irresponsável seguida de longos períodos de estagflação e inúmeras entrevistas cínicas à imprensa criticando os bombeiros escalados para apagar o incêndio que eles, os economistas, provocaram.

Os economistas da UNICAMP também se aventuram no campo da ornitologia: insistem que galináceos são plenamente capazes de voar, sem escalas, do Estreito de Bering à Terra do Fogo.

Marco, sua analogia é perfeita!