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terça-feira, 3 de novembro de 2015

Devotos de São Nunca

Pior que a comunicação do Banco Central do Brasil, apenas sua gestão de política monetária. No dia 23 de dezembro de 2014, quando divulgou o último Relatório Trimestral de Inflação (RTI) daquele ano, o BC, contrariando sua mensagem inicial de “parcimônia” no “esforço adicional de política monetária”, afirmou que iria “fazer o necessário para que [em 2015] a inflação [entrasse] em longo período de declínio, que a [levaria] à meta de 4,5% em 2016”.

A partir de então o BC, seja por meio de sua comunicação oficial (RTI e atas), seja através dos pronunciamentos dos membros de sua diretoria, comprometeu-se a trazer a inflação de volta a 4,5% em 2016. Em particular, o diretor Tony Volpon, assegurou que votaria “pelo aumento de juros até que nossa projeção de inflação esteja de maneira satisfatória apontando para o centro da meta”.

A frase, é bem verdade, lhe custou a participação na reunião do Copom em julho, por haver supostamente antecipado seu voto, mas seu conteúdo jamais foi contestado pelos demais membros do comitê. Pelo contrário, a partir daquela reunião o BC passou a enfatizar que a “manutenção da [Selic], por período de tempo suficientemente prolongado, [seria] necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016”, sugerindo que sua mensagem acerca do retorno da inflação para 4,5% deveria ser levada a sério.

Como já deve ter ficado claro ao longo das minhas colunas, jamais cometi o pecado de levar a sério as afirmações do BC, em linha com a imensa maioria dos colegas de profissão que, mesmo em face das inúmeras promessas, nunca trouxe as projeções de inflação para o ano que vem abaixo de 5,4%.

A razão para isto me parece simples: até em circunstâncias menos graves do que a atual o BC repetidamente falhou em sua tarefa, revelando uma fraqueza intrínseca; se técnica, política, ou de caráter (ou todas simultaneamente) é ainda matéria de debate, mas dúvida não resta que esta diretoria se mostrou incapaz de fazer o que todas as demais em alguma medida haviam conseguido.

E seu comportamento recente revela os mesmos erros do passado. No RTI divulgado em setembro o próprio BC previa que a inflação de 2016 deveria ficar em 5,3%, mesmo se mantivesse constante a taxa de juros, o que mostrava a insuficiência de sua política, em flagrante contradição com a promessa da convergência da inflação para a meta no ano que vem.

Ao invés de corrigir este problema pelo ajuste da política monetária, porém, o BC adotou a linha da presidente: não vai dizer qual é a meta e, quando lá chegar, há de dobrá-la.

Não pode ser outra interpretação da mudança de seu comunicado: ao invés de prometer a inflação na meta em 2016, o compromisso agora é que a convergência se dará no “horizonte relevante para a política monetária”, sem, é claro, especificar que prazo é este, embora eu acredite que, na prática, isto signifique algo entre “fiado só amanhã” e o “dia de São Nunca”.


E, se o BC crê, como parece, que a extensão do prazo de convergência tornará seu serviço mais leve, sugiro que monitorem as expectativas de inflação para 2016 e 2017, novamente em alta em resposta à sua postura mais frouxa. Conversa fiada, sem ação, só empurra mais acima um alvo que compreensivelmente se recusa a ficar parado.

O padroeiro das causas procrastinadas


(Publicado 28/Out/2015)

42 comentários:

Tombini foi seu colega de trabalho durante o tempo em que o senhor trabalhou no BC,nao e anti-ético critica-lo?

Artigo quinto do codigo de ética dos economistas:"O economistas ,com relalcao aos colegas,deve: Evitar referencias prejudicais ao seu conceito",etc.

http://www.eticaempresarial.com.br/imagens_arquivos/artigos/file/eticaenegocios/codetica_economia.pdf

Algo justifica a permanência do presidente do BC e dos seus diretores nos seus cargos?

Duas perguntas de leigo:

1) o BC possui alguma outra ferramenta para baixar a inflação que não seja aumentar os juros?

2) Além da inflação, o BC costuma olhar para outras variáveis macroeconômicas (PIB, desemprego, etc..) para determinar suas escolhas?

Um saluto
Daniel

"Tombini foi seu colega de trabalho durante o tempo em que o senhor trabalhou no BC,nao e anti-ético critica-lo?"

Não, acho antiético deixar de falar a verdade. Por exemplo, você é claramente um cretino sem qualificação para amarrar seus próprios sapatos e quem quer que seja o responsável pela sua saída do zoológico deveria ser processado por colocar em risco a saúde pública.

Olá, Alexandre. Bom texto. Você não acha que a situação fiscal impede uma ação efetiva do BC? O que se poderia fazer de diferente nessa situação? Elevar a taxa de juros subitamente em vez de fornecer pequenas doses de 0,5 p.p.?
Abraço. Fernando

Mas como economista, o senhor deve honrar o seu código de ética.Quando o senhor diz que o BC fez um trabalho porco,é um desrespeito para a instituição e os funcionários que trabalham nela.


Art. 2º - O Economista pautará a sua conduta profissional pelos seguintes
princípios e valores:
a) honestidade;
b) trabalho;
c) justiça social;
d) liberdade;
e) fraternidade;
f) humanidade; e
g) compromisso com o desenvolvimento profissional e intelectual da pessoa
humana e com o progresso da sociedade.
Parágrafo Único . No desempenho de cargo ou função pública, cumpre ao
economista dignificá-lo moral e profissionalmente, fazendo prevalecer sempre
o interesse público sobre o particular

DOS DEVERES ESPECIAIS EM RELAÇÃO AOS COLEGAS
Art. 5º - O economista, com relação aos colegas, deve:
a) prestar-lhes assistência em assuntos profissionais, no que for de direito e
justiça;
b) evitar referências prejudiciais ao seu conceito;
c) respeitar-lhes as iniciativas, os trabalhos e as soluções, jamais expondo-os
ou usando-os como de sua própria idealização.


http://www.eticaempresarial.com.br/imagens_arquivos/artigos/file/eticaenegocios/codetica_economia.pdf

"Mas como economista, o senhor deve honrar o seu código de ética.Quando o senhor diz que o BC fez um trabalho porco,é um desrespeito para a instituição e os funcionários que trabalham nela."

Alguém poderia, por favor, chamar a carrocinha? Obrigado

Prof. Alex, rogai por nós indecisos vítimas da ANPEC.

EESP, EPGE, PUC-Rio, uma escolha difícil demais para pobres bacharéis fazerem.

Na sua coluna de quarta-feira na folha falastes que os juros reais em 12 meses totalizaram aproximadamente 70 bilhões, desculpa a pergunta, mas os juros reais da NFSP não seriam os dispêndios com juros reais realizados pelo setor público?

Caros bacharéis,

Se for na área de macro, não tem o que pensar. Na PUC tem o Carlos Viana, o Eduardo Zilberman, o Thiago Berriel e o Marcio Garcia. Sem dúvida, é o melhor time de macro no Brasil hoje.

Agora, se o objetivo for micro ou econometria, então há motivos para haver dúvidas, afinal todos os centros estão bem servidos. De qualquer forma, a PUC é também gigante nessas áreas com Vinícius Carrasco, Claudio Ferraz, Gabriel Ulyssea, Leonardo Rezende e Marcelo Medeiros.

Enfim, eu escolheria a PUC. To acabando meu mestrado lá e pelo que ouço de amigos que fizeram USP, EPGE e EESP, acho que lá é a melhor opção.

Abs

Foi um erro de digitação. A inflação estará no centro da meta de 4,5% no ano de 2106.

Alexandre, como faço para obter o seu artigo "O que aconteceu com Gustavo Franco em 99?". A resposta do Gustavo eu encontrei mas o artigo, não. Como faço para acessa-lo.

Laura

Eu tenho colegas que trabalham no BC e não gostaram do seu post!!!

Observando os riscos na mesa, o BC está correto ao postergar a convergência. PIB caindo como estivéssemos em guerra, incerteza política e fiscal, calotes acelerando, quantidade de empresas em RJ em níveis preocupantes etc-etc. O BC está mantendo juros reais decentes(bastante decentes para uma economia em recessão), promovendo um retorno já em 2016 da inflação aos níveis pré ajuste (6,5%/7%) e colocando 2017 como a batalha pós-ajuste. De 2017 não pode fugir! Mas me parece que alguns caras querem que o BC suba juros para provar que não estamos numa dominância fiscal. Ou mesmo que suba os juros porque se a inflação atingir 7,01% ano que vem a dinâmica ficará "perigosa" (como se fosse muito diferente de 5,99%!). O BC não pode errar pra mais agora pois isso traz riscos importantes. Só por que fez cagada em 2012/2013/2014, o BC não deve ficar cego aos fatos.

"Eu tenho colegas que trabalham no BC e não gostaram do seu post!!!"

Só por isto não vou dormir de dia, nem comer de madrugada...

"Alexandre, como faço para obter o seu artigo "O que aconteceu com Gustavo Franco em 99?". "

Eita! Não sei se tenho cópia. Deve estar em algum CD (é, CD mesmo, foi escrito há 15-16 anos), mas não faço ideia de onde possa estar. Me mande um e-mail e se achar, mando a cópia.

Não foi em 1997. Foi em 99.

Muito bom o artigo da última quarta, Alex

O que aconteceu com Gustavo Franco em 99?

Alexandre Schwartsman

Tem de pegar o artigo neste cache antes que suma de vez

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:cuji0ecyEjMJ:www.econ.puc-rio.br/gfranco/Alexandre_Schwartsman2.htm+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

Achei o artigo no site do Gustavo Franco da PUC. http://www.economia.puc-rio.br/gfranco/

Precisa ir lá e, via control-F procurar por "o que aconteceu com Gustavo Franco"...

Está um pouco ruim de ler porque os acentos e cedilhas cederam lugar a mini-hexágonos com interrogação, nada qincontornável.

At,
Ricardo Conte

PS: tentei o botão "Reply" não funcionou...

Alex,

Voce é favoravel a rediscutirmos a arquitetura do nosso regime de metas?

- BC independente?
- ano calendario?
- medida de nucleo?

Abs

Alex, como faço para obter o seu trabalho de mestrado?

Por que o senhor crítica Alexandre Tombini e poupa Joaquim Levy? O senhor parece que prática uma ética seletiva!!

Alexandre,

O Ciro tem dado uma de economista. Parece que o tema de pesquisa dele é inflação. rs

Nesse vídeo ele comenta sobre a inflação brasileira.

https://www.facebook.com/tvbrasil/videos/10153922582872985/?pnref=story

Ele esquece de dizer que parte da inflação de hoje vem do aumento de crédito do governo Dilma 1? (Estou certa?) É essa falta de cuidado no debate sobre inflação que afeta a interpretação sobre a essência da inflação, se de demanda ou de custos?

Se HOJE quisermos discutir a inflação precisamos falar do período de crédito farto do PASSADO. Se analisarmos só o presente a inflação teria um componente de custos maior do que o de demanda. (Certo?)

Como ter inflação de demanda se estamos em recessão?

Essa discussão sobre a essência da inflação é meio esquisita para quem está no 4º perido de economia. rsrs


Laura

"Voce é favoravel a rediscutirmos a arquitetura do nosso regime de metas?"

- BC independente?

Sim, claro

- ano calendario?

E no que isto é diferente do que temos hoje e, para falar a verdade desde sempre? Quando a inflação desviou para cima em 2004 estabelecemos um objetivo intermediário para 2005 e compensamos em 2006.

- medida de nucleo?

Não iria mudar muita coisa e pioraria a transparência. Em particular, nos últimos 10 anos os núcleos superaram a inflação cheia em 5. A diferença média entre o IPCA cheio e os núcleos nos últimos anos foi -0,04%....

"Por que o senhor crítica Alexandre Tombini e poupa Joaquim Levy? O senhor parece que prática uma ética seletiva!!"

Achava que você era apenas burro; hoje percebi que se trata de um analfabeto funcional...

"como faço para obter o seu trabalho de mestrado?"

Tem uma cópia na biblioteca da FEA. Cópia eletrônica não deve existir.

O senhor viu que o criador do Bitcoin? Os tempos mudaram!!!!

De acordo com o Ciro, taxa de juros não tem nada a ver com cambio. Jenio.

Vivemos uma fábula...e a moral que aprendemos é dolorosa!!

https://economicista.wordpress.com/2015/11/09/fabula-o-fim-da-festa/

O senhor vai ler Mises,depois que o criador do Bitcoin ganhou o nobel de economia?

Alex,

Sabe em quanto está a inflação implícita para papéis que vencem em 2017 e 2018?

Abs
Julio

2017: em torno de 8,8%
2018:em torno de 8,0%

"O senhor vai ler Mises,depois que o criador do Bitcoin ganhou o nobel de economia?"

Estou curioso: que língua falam no sua galáxia?

O Brasil está fufido! Há apenas uns 4 ou 5 programas de pós-graduação em economia com qualidade.

Joaquim Levy, coitado, está empenhado e arrumar uma bagunça que não foi ele quem provocou. A cúpula do BC, ao contrário, está refém de seus próprios erros. Se não tivesse baixado os juros na marra em 2011, certamente o esforço para trazer a inflação de volta a meta seria menor.

Cuidado Alexandre, daqui há pouco abrem um processo no Conselho de Ética do Conselho Federal de Economia kkkkkkkk

Alex,

Sabemos que a política monetária atua, basicamente, embora não somente, pelo lado da demanda. A demanda agregada, por sua vez, está muito enfraquecida o que, em parte, resulta da ação do próprio BC. Se de fato a economia brasileira tiver crescimento negativo neste ano e no próximo de cerca de 3% e, nem assim, nossa inflação convergir para a meta, então precisamos analisar o que está ocorrendo. à primeira vista, algo parece errado. Ou bem temos um banco central sem credibilidade nenhuma, o que dá um peso enorme às expectativas de inflação (desancoradas) para determinar nossa inflação, ou bem somos extremamente dependentes do comportamento da taxa de câmbio para conseguir cumprir com a meta de inflação. Confesso que ambas as possibilidades fazem sentido, embora a segunda seja mais intuitiva. Se isso for verdade, e o câmbio for, na prática, nosso pilar da estabilidade, não faria, então sentido, adotarmos um regime de âncora cambial?

Bjs,
Julia Prates

Quando foi o Krugman que ganhou o nobel, o senhor fez um post em dedicatória a ele,agora quando o criador do Bitcoin ganha o nobel o senhor fica "mudo"!!!

" Quando foi o Krugman que ganhou o nobel, o senhor fez um post em dedicatória a ele,agora quando o criador do Bitcoin ganha o nobel o senhor fica "mudo"!!!"

Voce esta me trollando ou eh tao imbecil quanto eu desconfio (o Nobel de Economia deste ano foi para o Angus Deaton)

E se o Meirelles entrar no lugar do Levy e liberar a torneira do crédito? O que será de nós?

Esse negócio de torneira é com o Collor, é melhor chamar a Zélia.